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A crise internacional do capitalismo


A agenda neoliberal tenta colocar nas costas dos trabalhadores o pagamento da crise econômica que sentimos diariamente: a carestia, o desemprego, a piora dos serviços públicos, a falta de moradia etc. É uma crise internacional do capitalismo, a mais grave desde 1929. Surge há cerca de 10 anos, nos Estados Unidos e arrasou economias de países inteiros.

Foi neste cenário que vimos as lutas contra os planos de austeridade em anos anteriores na Europa, especialmente nos países mais atingidos, como Grécia, Portugal e Espanha. Nem os países ricos, como a França, ficaram atrás e o governo de François Hollande realizou grandes ataques aos trabalhadores, retirando direitos históricos. Até mesmo a China, que apresentava percentuais de crescimento acima da média mundial, teve uma desaceleração econômica, implicando na queda do preço das matérias-primas compradas de outros países e levando à queda do PIB[1] da América Latina.

Com esses impactos, a América Latina entra em cena em uma conjuntura de lutas. Na Argentina, gigantescas mobilizações questionam o governo Macri que é marcado por centenas de milhares de demissões, 6 milhões padecem de fome e uma de cada dez famílias não pode alimentar todos os seus membros. Nas ruas do Chile, dois milhões protestaram contra a nova lei da previdência. No México, o governo Peña Nieto tinha apoio de apenas 8% da população no início do ano, o mais baixo de toda a história do país e tiveram vários levantes regionais. No Paraguai, milhares de pessoas em Assunção ocuparam e queimaram o Congresso Nacional em protesto contra o decreto que possibilita a reeleição do presidente Cartes (Partido Colorado) e de Fernando Lugo (ex-presidente que se diz de esquerda).

Há crises, mobilizações e insatisfação em todos os países e a Venezuela ganha destaque porque põe em xeque o auto-intitulado “socialismo do século 21”, um modelo econômico que, encabeçado pelo falecido Hugo Chávez, é reivindicado e defendido por grande parte da esquerda mundial. No entanto, nada tem de socialismo e o que chavismo fez foi manter e aprofundar o modelo de acumulação chamado rentista petroleiro ao mesmo tempo em que desindustrializou o país, gerando uma enorme dependência do petróleo, cuja receita representava 90% dos recursos do Estado.

O modelo de acumulação conseguiu funcionar mais ou menos bem enquanto os preços do petróleo permaneceram altos. A parte da renda que ficava com o Estado permitia o pagamento da dívida externa, a concessão das missiones (o “bolsa família” venezuelano), a nacionalização de algumas indústrias, a oferta de negócios a outros setores burgueses e, como resultado dos incentivos dos governos, surgiu uma nova burguesia ascendente, a boliburguesia. A boliburguesia que tem na cúpula das forças armadas um importante peso, enriqueceu às custas da corrupção com dinheiro público e hoje é a grande apoiadora do governo, não querendo perder seus privilégios caso o chavismo caia.

Assim, o chavismo é um governo nacionalista burguês, que teve atritos parciais e uma retórica contra o imperialismo norte-americano, o que lhe rendeu grande prestígio em toda a América Latina. Foi assim que, em 2002, Bush armou um golpe contra Chávez. As massas reagiram violentamente, iniciando uma nova insurreição que derrotou o golpe e só parou com o retorno de Chávez dois dias depois. O imperialismo aprendeu e passou a conviver com os governos chavistas e a utilizá-los para manter a exploração do país.

Desta forma, Chávez foi reeleito em 2006 e em 2012, e morreu em 2013. Maduro, vice-presidente de Chávez, assumiu o governo e depois foi eleito presidente em abril daquele mesmo ano. Mas com a crise econômica, veio a queda dos preços do petróleo que derrubou a base material do chavismo e desde 2014, o país vive uma depressão poucas vezes vista na história.

Hoje, 80% da população é contra o governo chavista e, para se manter no poder, Maduro promoveu um golpe. Convocou uma “Assembleia Constituinte”, suprimiu o voto universal para eleição dos parlamentares, estabeleceu critérios distorcidos entre os eleitores, privilegiando as zonas em que tem mais peso e manobrou as eleições. Tudo isso para transformar uma minoria em maioria.

Para impor esse golpe, a repressão é duríssima. Mais de 100 mortos, mais de 500 presos. Além dos ataques das Forças Armadas e da polícia, existem os “coletivos”, que são grupos paramilitares que reprimem as mobilizações e matam os opositores. Existe um golpe na Venezuela, dado pelo governo Maduro. Um governo que não tem nada de “socialista”, nem de “anti-imperialista”. É um governo burguês, corrupto, repudiado pelas massas… e apoiado por parte importante da esquerda reformista em todo o mundo.

Por outro lado, o imperialismo pressiona Maduro com sanções diplomáticas com uma farsa “em defesa da democracia”. Na verdade reflete, essa é uma disputa para retirar a boliburguesia do poder e garantir que a burguesa apoiada pelo imperialismo retome o poder no país. Não se trata, portanto, de um “golpe militar imperialista”, mas sim das mesmas tensões que ocorrem na América Latina com a ruptura dos setores populares com os governos tanto de conciliação de classes, como nacionalistas burgueses ou burgueses tradicionais.

[1] Produto Interno Bruto (PIB): é a soma de tudo o que é produzido em um país

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